sábado, 17 de agosto de 2013
quarta-feira, 17 de abril de 2013
Expurgacionistas interacionistas em Birmingham UK 2012: observando e interagindo com outros artistas
O Festival Espírito Brum, que aconteceu entre os dias 11 a 16 de setembro de 2012 na cidade de Birmingham na Inglaterra, cerca de 3 horas de Londres, contou com apresentações musicais de artistas brasileiros e ingleses de modo geral, mas também encontramos por lá músicos indianos, franceses, um iraniano, um chileno, além de outras nacionalidades. E este relato que ficou entocado estes meses todos agora vem à tona.
O coletivo Expurgação foi convidado ao evento para atuar mais na área das artes visuais, com projeção de vídeo e exposição fotográfica. Todavia, a Expurgação musical estava ali na espreita, pois todos tocam algo, ou expurgam algum instrumento ou letra no microfone, naquela vontade de fazer um som.
O video Casa Catraia com direção de Alexandre Barcelos e uma versão reduzida da exposição fotográfica Últimos Refúgios que estavam previstas para o Festival Espírito Brum, ocorreram como o planejado, como pudemos cobrir com posts do dia para o site expurga naquela ocasião para o evento "For The Catraieiros", parceria entre o Coletivo Expurgação e Friction Arts.
E como a Expurgação musical não faria uma apresentação exclusiva, o espaço proporcionado pela própria dinâmica do Festival permitiu que no plano sonoro se criasse um novo contexto: o expurgacionismo interacionista. Que consiste na interação de alguém do Coletivo Expurgação com outros artistas, e que pôde ser experimentado em diversas situações neste Festival na Inglaterra como veremos no decorrer deste post.
E como música é linguagem universal, com as mãos coçando pra expurgar estávamos. Chegando em Birmingham, na segunda dia 10 de setembro logo encontramos Aline Yasmin, do Instituto Quorum, uma das organizadoras do Festival Espirito Mundo, que nos apresenta o pub The Spotted Dog, que abriu as atividades do Festival. E nem esperávamos que ali, no dia seguinte, seria a primeira intervenção interacionista dos expurgadores musicais.
Terça 11 de setembro de 2012
Pela manhã fomos conhecer o espaço The Edge, sede do coletivo Friction Arts. O objetivo era uma reunião para traçar as parcerias entre os dois coletivos no Festival, e que foi mediada por uma das principais organizadoras do evento, a inglesa Tessa Burwood, que fala português também, o que ajudou bastante. Para conferir foto deste dia na rede instagram click aqui.
Pela noite, foi a vez do show do brasileiro Wanderson Lopez, violonista com refinada erudição, fazer a sua apresentação jazzística intimista, contando com dois músicos ingleses na bateria e nos metais. Até que mais pro final da noite os percussionistas Mendi Singh e Mark Magoo, começam uma levantada de batuque junto aos acordes de Wanderson Lopez, em seguida começam um a um dos músicos da Expurgação (Abraão SoulPower, Arthur Navarro, Chicow, Diego Brotas e Yuri Salvador) a pegar e tocar algum instrumento de percussão, como bongô, triângulo e chocalho e outros. Assim a batucada ganha outra textura e anima Wanderson Lopez, que começa a puxar acordes mais sambistas, momento empolgante no Festival.
Quarta e quinta: 12 e 13 de setembro 2012
Na quarta dia 12 foi o dia da Discotecagem Radiofônica no pub Hare & Hounds, por conta do DJ brasileiro Jovem Palerose. Na quinta dia 13 de setembro projeção de vídeos produzidos por membros do Coletivo Expurgação, no evento For the Catraieiros no Ort Cafe, mais os shows intimistas no formato acústico dos brasileiros Tião Duá e Dea Trancoso, que surpreenderam o público presente arrancando aplausos .
Ainda na quinta dia 13, tivemos o percussionista inglês Mark Magoo com seu projeto eletrônico com percussão ao vivo, o Overproof Sound System, com quem pude interagir tocando bongô em cima de uma base eletrônica de beat pesado. Além do mineiro Guidub com seu dimamite dub com samples de Mulatu Astatké, e do hip hop dos paulistas do Dragões de Komodo, que escaldaram tudo no pub Adam & Eve naquela noite, esquentando a chapa sinistramente.
Sexta 14 de setembro 2012
O local era a sede do coletivo Friction Arts, o The Edge. Mais uma interação expurgacionista aconteceu, com Francisco Neto fazendo uma participação com cítara indiana no show plugado da Dea Trancoso, confira post com vídeo deste rico momento [click aqui]. Tivemos também nesta noite a apresentação do tablista Mendi Singh, do brasileiro Luiz Gabriel Lopes (do trio Tião Duá) e dos ingleses do Honey Feet.
Mais tarde na mesma noite o local marcado era no pub PST, bem próximo ao The Edge, com a festa "Rebel Spirit". O pub aonde aconteceu a exposição de algumas fotos do projeto Últimos Refúgios do coletivo Expurgação e do fotógrafo Caio Perim, com seu trabalho Linguagens da Terra.
O PST é um pub totalmente "ragga"!! Como costumamos dizer entre nós. Um lugar labiríntico com diversos ambientes, com espaço subterrâneo outro térreo e um andar. Além de um espaço externo criado para aquela noite. O jamaicano Pablo, que mais tarde assumiu o microfone com Mark Maggo na percussão e na base eletrônica, que me ofereceu até um café, foi um dos caras do PST que pude conhecer. Nesta noite de sexta no evento Rebel Spirit no PST tivemos ainda Guidub, com quem pude tocar um pouco de escaleta em sua base dub atômico, e outros dj's e rappers ingleses.
Sábado 15 de setembro 2012
Local: PST, nome da festa "Culture Freedom", Dragões de Komodo escaldando novamente com sua base pesada e verbo tinindo. Phanton rapper dos Dragões havia comentado na noite anterior que no final da apresentação deles no pub PST, teria um espaço para intervenção no mic. Pensei numa faixa que tem rolado com a Expurgação pra mandar naquela ocasião. Com o chamado de Phanton Soul Power assume o mic pra mandar a letra de "Base Bruta". Em seguida continua o freestyle no meio do batidão com outra galera assumindo o microfone mantendo a levada. Além de mais uma apresentação do projeto eletrônico-percurssivo do Overproof Sound System e do brasileiro Guidub.
Domingo 17 de setembro 2012
Último dia do Festival, mais uma intervenção expurgacionista. Desta vez a interação foi com a artista Rubiane Maia, que convidou os músicos da Expurgação para fazerem uma trilha sonora ao vivo para a sua performance. Radical performance por sinal, com direito a vidro quebrado e pétalas de rosas. Sinistro! Uma tarde de domingo bem diferente no The Edge. Confira o post sobre a performance de Rubiane Maia com trilha ao vivo da Expurgação [click aqui].
Logo mais a noite depois de uma série de apresentações musicais no The Edge, um momento único! Uma big jam com os artistas presentes pra expurgar tudo! Tião Duá e seus músicos, o tablista indiano Mendi, um percussionista chileno, outro indiano, um iraniano no violino, os ingleses do Honeyfeet, além de outros músicos, e os expurgacionistas interacionistas bem a vontade, marcando presença na jam, as letras do Soul Power, a cítara do Chicow, a batera pesada de Diego Brotas, Arthur Navarro e Yuri Salvador pegando um percussão para interagir, Guidub e o Jovem mandando uns samples, o punk mandando uma letra style Beastie Boys, enquando eu gastava no controlador midi do Guidub, sensacional!
Momento histórico de grande aprendizado e interação que terminou com uma versão cabulosa de Meu amigo mago, com Tião Duá no baixo, Gustavito na viola, Brotas na batera e eu e Chicow segurando os vocais. Para conferir trechos da jam session no Festival Espírito Brum registradas ao vivo na ocasião pela transmissão do canal do Festival Espírito Mundo no rede Ustream, acesse o site do Coletivo Expurgação em que realizamos um post específico para esta big jam que rolou em na cidade de Birmingham [click aqui].
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quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Simpósio de Filosofia e Psicanálise acontece em Vitória neste mês de dezembro
Acontece entre os dias 10 e 14 de dezembro na cidade de Vitória, no Espírito Santo, o VII Simpósio de Filosofia e Psicanálise: Feminilidades. O evento está associado a outras atividades integradas que acontecerão durante a semana prevista para o início do próximo mês. Além de conferências e mini -cursos relacionadas às temáticas propostas, o evento irá oferecer um Curso de Extensão intitulado "Dimensões da Humanização" e a I Mostra Livre de Artes: Mulheres e intervenções Urbanas.
As atividades são de iniciativa do Grupo de Pesquisa e Extensão Parthos ligado ao Departamento de Filosofia da Ufes, sob coordenação da filósofa e psicanalista Cláudia Murta. O Grupo de Pesquisa Parthos, para este evento, firmou parcerias com o Programa de Pós-Graduação de Filosofia da Ufes, Grupo de trabalho em Filosofia e Psicanálise da ANPOF, Escola Brasileira de Psicanálise (ES) e o Curso Dimensões da Humanização do NEAD/Ufes.
As diversas atividades do evento, acontecerão em diferentes lugares da cidade, tais como a Galeria Ana Terra, CCHN Ufes, Aliança Francesa, no bar Casa de Bamba, no Cine Metrópolis da Ufes, e no Auditório do CCE/UFES.
O curso de extensão será semi-presencial e contará com carga horária total de 180 horas. E é aberto à comunidade de modo geral, interessados em Filosofia, Psicanálise e Arte, profissionais da Educação, e áreas afins e interessados em aperfeiçoar sua formação.
Para saber um pouco mais da programação click aqui. Para realizar a sua inscrição click aqui.
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Filosofia, mitologia e cinema: David Hume, Hesíodo e o ladrão de raios
Uma edição de alguns trechos do filme O Ladrão de Raios, em torno de 3 minutos,
pouco em relação ao longa metragem, porém ilustrativo no que compõe
o interesse em uma redação de um breve artigo articulando noções do filósofo David Hume
em relação à imaginação, e a obra de Hesíodo: Teogonia: A origem dos deuses. Confira:
“Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também
Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre,
(...) e Eros: o mais belo entre Deuses imortais,
solta-membros, dos Deuses todos e dos homens todos
ele doma no peito o espírito e a prudente vontade”
Hesíodo
Hesíodo
O que a metafísica de
David
Hume tem a ver com
esta história toda?
“todo poder criador do espírito não ultrapassa
a faculdade de combinar,
de transpor, aumentar ou de diminuir
os materiais que nos foram fornecidos
pelos sentidos e pela experiência.”
David Hume
À
primeira vista, lançar em um mesmo plano referências tão distantes no tempo,
pode nos parecer estranho, porém, verificaremos através de um exame mais
detalhado, o quanto a filosofia moderna, mais especificamente os trabalhos de
David Hume, podem nos oferecer uma base filosófica precisa
para interpretar o imaginário expresso nos personagens da mitologia grega,
que por sua vez aparecem em sua versão pop no filme “Percy Jackson e o Ladrão
de Raios” (EUA, 2010), que se trata de uma adaptação para o cinema do livro
inicial da série “Percy Jackson e os Olimpianos”, do escritor americano Rick
Riordan, este foi o "insight" inicial para o relampejo desse breve e
curioso artigo. Deste modo, começaremos por traçar melhor a posição
da metafísica de David Hume nesta história toda. Para o filósofo, a partir
de passagens encontradas em seu célebre livro “Investigações sobre o
entendimento humano”, mais precisamente nas seções II e II, intituladas “Da
origem das ideias” e “Da associação da ideias”, constatamos uma teoria das
ideias que se funda primordialmente com base na experiência.
Experiência,
na linguagem de David Hume, significa o conjunto de dados informações que
obtemos através dos sentidos, isto é, significa tudo aquilo que nos afeta de
modo imediato, seja no campo da percepção de objetos externos, seja no campo da
erupção dos afetos, sentimentos internos, pelos quais somos tomados de acordo
com as circunstâncias. Sobretudo, na linguagem de David Hume, o conceito que
corresponde ao termo experiência, ganha o nome de “impressões”, que são as
nossas percepções mais vivas.
O
lugar das “impressões” contudo, se encontra em contraste com a outra categoria
de percepções mais fracas, que se denominam “pensamentos ou ideias”, que por
sua vez se remetem à reflexão e à lembrança, em que as percepções originais
apreendidas pelos sentidos são mais vagas em detalhes, pois na reflexão e na
lembrança de uma sensação ocorrida a determinação e definição escapa à
totalidade do acontecimento original.
Contudo,
as impressões acontecem justo no momento quando observamos, sentimos, ouvimos,
isto é, quando os detalhes dos acontecimentos presentes estão mais vivos, mais
recheados de detalhes. Já na reflexão e na lembrança as qualidades dos
objetos e o fervor dos sentimentos está amansado, apaziguado, pois a reflexão e
a lembrança não retomam a impressão original.
Deste
modo, para o filósofo existirá então uma relação de interdependência entre
ideias e impressões. Em sua concepção, em nossas percepções primordiais
abrigam-se a gênese e origem de todas as nossas ideias. Isto é, entre
impressões e ideias uma relação de causa e efeito as aproxima de modo
umbilical. Assim, uma idéia tem como sua causa, digamos assim, uma dada
impressão, ou em outros termos, uma determinada ideia tem como sua causa um
certo conjunto de impressões fornecidos pela experiência. E de modo inverso,
uma dada impressão produz como seu efeito uma determinada ideia.
Assim
também funcionará o mecanismo que rege nossa imaginação. Conceito que mais nos
interessa na presente investigação. Se estamos acostumados a ouvir que a
imaginação é livre, para David Hume, ela está precisamente contornada em uma
certa demarcação dos limites de nossa experiência, ou seja, nos limites das
impressões às quais tivemos acesso. Deste modo, poderíamos afirmar que nossas
impressões seriam como as portas de nossas ideias. Pois é justo através das
impressões dadas pela experiência que nossas ideias tomam forma.
No
caso da imaginação, David Hume encontrará um conceito preciso para explicá-la.
Para delimitar melhor como a nossa imaginação se forma, nasce na filosofia de
David Hume o conceito fundado no princípio da associação de ideias. Com este
conceito, abre-se então a possibilidade de localizarmos melhor a origem daquilo
que nos sobrevém à mente quando o assunto é imaginação.
Ao
invés de nos assustarmos ou nos espantarmos com figuras e formas estranhas à
natureza e à realidade, como no caso de pesadelos, sonhos, filmes de terror ou
ficção científica, desenhos animados, revistas em quadrinhos, etc. Para o
filósofo David Hume, todos os dados da experiência, isto é, nossas impressões,
quando retomados em nossa memória ou imaginação, são ora aumentados,
diminuídos, combinados e sobretudo associados, seja de modo eventual, seja de
modo imposto pela vontade e pela criatividade. Deste modo, o princípio da
associação de ideias é responsável por ligar, na imaginação, dados, figuras,
qualidades, características e informações de objetos e formas diferentes, que
no plano da natureza e da realidade seriam impossíveis.
Teogonia, a origem dos
deuses de Hesíodo
e as interpretações
metafísicas
de Hume acerca da
imaginação
Ora,
modernamente é que se tematizou a partir de outra abordagem, perspectiva, uma
interpretação empirista da formação das ideias e nestas a imaginação como nos
propõe David Hume.
Isto
no levou a pensar que poderíamos por mediação da associação da noção de
imaginação com a noção de mitologia, isto é, categorias diferentes em relação à
natureza e à realidade, tomá-las, elas, a imaginação na perspectiva da
metafísica de David Hume, e os traços presentes na Teogonia de Hesíodo, como
algo que pudéssemos explorar traços em comum entre estas duas referências.
Nossa
primeira constatação é a de que a mitologia carrega em seu modo de associação
das ideias traços de nossas impressões reais. E neste sentido, ao criar
figuras, que habitam o desconhecido plano da religiosidade de um povo, que é a
sua formação no tecer do tempo, das formas de linguagem inscritas sob a égide
de um lampejo religioso, o conjunto de sua mitologia e de seu imaginário. Mitologia esta que em dado momento histórico orientam as ações e decisões
daqueles a quem a crença está inscrita na alma, que em filosofia, está sempre
associada ao plano das ideias, desde a antiguidade em Platão com o mundo das
ideias inscritas no mundo das almas, aonde reside o conceito de verdade, até a
modernidade, com filósofos como René Descartes, também associando o plano das
ideias como algo distinto do corpo, que porém se relacionam entre si, mas são precisamente de natureza distintas.
É
sabido, que a Teogonia do poeta Hesíodo ocupa o lugar
mais longínquo, e por isso não menos importante, do que nós modernos
conhecemos dos antigos gregos, que se referia à sua mitologia, as figuras do
imaginário de linguagem e imagem tão diversificado como a mitologia grega o fez. E que
para a modernidade, nos chega através de seus ecos e releituras dos mitos
gregos, que para a grande massa é oferecido principalmente por meio das séries de desenhos
televisivos e também por meio do cinema, em diversos filmes recentes da
última década, entre eles o filme em que o nosso ladrão de raios aparece.
Retomando
algumas lembranças dos mitos gregos, poderíamos afirmar que, as figuras
reunindo características animais e humanas, como o minotauro, ou aumentadas,
segundo a perspectiva de Hume, ou as musas como profetas da criação, poderiam
ser indicações de que um contorno filosófico tentasse se aproximar de uma mais
precisa abordagem das figuras da Teogonia, dissecando associações de ideias
abrigadas nas figuras do imaginário da mitologia grega, descrita na obra do
poeta Hesíodo. Compreendemos isto como um valioso caminho de averiguação das teses de David Hume a
respeito da imaginação.
Nossa
intenção, sobretudo, é se colocar no limite temporal que nos interpõe e nos afasta, desde
uma mediação entre nós e os mitos da antiguidade que antecederam o surgimento
da filosofia. Não pretendemos aqui realizar um trabalho de interpretação
filosófica da obra Teogonia como um todo, desde a perspectiva da poética do
mito, tema o qual se ocupam alguns filósofos atualmente. Mas de outra maneira e
em outra direção, tratar o tema da imaginação associado ao tema da mitologia,
desde uma perspectiva empirista e não desde uma metafísica do mito. Isto é, a partir da tendência e inclinação em se familiarizar mais com algumas noções de metafísica, desde a observação dos mitos.
Nesta
mesma direção, afirmamos que a metafísica empirista de Hume nos promove uma
referência em relação ao assunto, porém, sabemos, que se trata de um caminho, e
tão somente um caminho, dentre outros possíveis de leitura, em que uma
investigação mais rigorosa das figuras da Teogonia desde uma interpretação da
poética ali instaurada, não é a intenção deste trabalho. A parcela do
desconhecido, indizível, irracional e do psiquismo, simbologia e religiosidade,
se interpõe entre nós e a Teogonia de Hesíodo, nos é inacessível, de certeza
que é um livro de muito difícil leitura, e de uma riqueza poética
incomensurável.
A
título de referência mais precisa na Teogonia de Hesíodo, uma passagem nos
chama muito a atenção. Se trata do "Proêmio das Musas", que promovem
com seu canto o anúncio das divindades e dos elementos da natureza sob a égide
destes deuses e deusas. Figuras como Zeus, Hera, Argos, Apolo, Atena, Ártemis,
Posídon, Têmis, Afrodite, Dione, Aurora, grande Sol, Lua brilhante,
Jápeto, Terra, Oceano e Noite, ecoam nos cantos das musas que lançam
"belíssima voz". Figuras estas que são associadas a impressões de
objetos materiais: como calçada, sandálias, porta, flechas, coroa, traços do
corpo como olhos, qualidades como o "curvo pensar" de Jápeto, e
ideias, como a ideia de beleza, de agilidade, de soberania, áurea, sagrado,
imortalidade, luminosidade, entre outros. Vejamos como se articula a passagem
em que encontramos estas figuras citadas acima, a saber, "O Proêmio das
Musas":
“vão
em renques
noturnos
lançando belíssima voz,
hineando
Zeus porta-égide, a soberana Hera
de
Argos calçada de áureas sandálias,
Atena
de olhos glaucos virgem de Zeus porta-égide,
o
luminoso Apolo, Ártemis verte-flechas,
Posídon
que sustém e treme a terra,
Têmis
veneranda, Afrodite de olhos ágeis,
Hebe
de áurea coroa, a bela Dione,
Aurora,
o grande Sol, a Lua brilhante,
Leto,
Jápeto, de curvo pensar,
Terra,
o grande Oceano, a Noite negra
e o
sagrado ser dos outros imortais sempre vivos.”
O que
pretendemos indicar lendo esta passagem, a partir da teoria da imaginação de
David Hume, trata-se em compreender que encontramos na filosofia referências
interessantes em nos aproximar de uma possibilidade de leitura e compreensão
das figuras mitológicas da Teogonia de Hesíodo. Sendo a obra de Hesíodo a
principal referência para mais uma versão sobre mitologia grega sendo
dessa vez uma releitura cinematográfica a partir de um curioso filme que traz à
tona uma leitura da literatura juvenil de um americano chamado Rick Riordan. Comentário que gostaríamos de ilustrar a partir da referência ao filme em questão.
E em
outra direção, nos interessa observar, ao nosso modo, como o cinema através de
uma grande produção, que envolve nada mais que o diretor Chris Columbus
(que dirigiu os dois primeiros Harry Porter), ainda nos dias de hoje, sob o
domínio da técnica e da ciência no mundo moderno, consegue atrair temas da
antiguidade ocidental como tais como os mitos gregos, como tema para um empreendimento
bem sucedido da indústria cinematográfica como este. Chris Columbus retoma a
mitologia grega, a subvertendo e pegando carona em suas figuras, e por tabela
nos remonta a trechos da obra que mais chegou aos leitores de nossas gerações
atuais sobre a mitologia grega, que é célebre “Teogonia: a origem dos
deuses” do poeta Hesíodo. No princípio era o caos.
A Zeus deram o trovão
e forjaram o raio: e nos aparece no cinema nosso caro amigo Ladrão de raios: o
principal acusado é Percy Jackson
O
raio governa todas as coisas que são
Herácrito
Ora,
logo o relâmpago, o trovão de Zeus? Estaria a hierarquia do arquétipo de rei
dos reis do Universo, o grande Zeus em perigo? Tendo seu principal poder
ameaçado? Seu atributo da natureza que ele Zeus coordena? O que a trama do
filme anuncia logo ao início é a instabilidade do Olimpo. Poseidon, ligado ao
elemento da phisys que é o mar, e Zeus, ao governo do “Relâmpago”, em uma
dilema: localizar o raio que foi roubado: o raio de Zeus.
O
percurso desta trama e aventura, se passa na busca por este raio principal, já
dizia o filósofo Heáclito: “O raio governa todas as coisas que são”. O
interessante que a grande maioria dos personagens impõe sua forma peculiar, em
um cenário místico próprio da obra de Hesíodo, dando espetacular relevo aos
mitos gregos, como por exemplo, as cenas em que aparecem as figuras ou
imagens da Hidra, e do olhar mortal e petrificador da sensual Medusa.
Levando adiante as
Teses de Hume:
a Teogonia de
Hesíodo,
e sua releitura no
filme do diretor Chris Columbus
Ora,
retomemos o percurso: em uma primeira oportunidade nos deparamos com a
filosofia de David Hume, e uma tentativa de demonstrar através de análise de
exemplos, que o filme Percy Jackson e o Ladrão de raios, baseado no livro de
Rick Riordan, e a obra clássica Teogonia a origem dos deuses de Hesíodo,
principal referência para as figuras do imaginário da mitologia grega,
apresentam, contudo, um fio condutor entre eles. Isto nos daria abertura para
um diálogo entre metafísica, a partir do tema da imaginação, e as figuras
da imaginação apresentadas nos mitos e reelaboradas no filme o Ladrão de
Raios, de 2010.
Nossa inclinação é indicar que as afirmações de David Hume de que as figuras da imaginação associam de uma forma ou de outra elementos, características, da experiência sensível, é um de nossos principais pontos de partida para a abordagem aqui desenvolvida. Podendo, a atividade da imaginação, aumentar, associar, diminuir, caricaturar, como própria dinâmica do pensamento, os dados fornecidos pelos sentidos. Tomando sobretudo como referências os elementos ou fenômenos da natureza tornadas divindades na obra de Hesíodo, e que o filme em questão dá relevo e importância, por exemplo nas figuras de Poseidon, referente aos mares, e Zeus, referente ao raios.
É nesta direção que vale a pena articular algumas noções acerca do tema da imaginação na filosofia de David Hume, para a qual a principal constatação em relação ao conhecimento é exatamente a pergunta: “What impression that Idea is derived?” Isto é, de que impressão esta idea é derivada? Assim encontramos no Tratado da Natureza Human de Hume. É este o problema filosófico primordial que nos conduziu por todo este percusso de reflexão.
Fepaschoal & Comando Guatemala: Barbarizô geral!!!
No percurso de 2010, neguin acessava o my space do FP_CMDO_Guatemala e via lá: “Gravando-ES/Brazil”. Isso até bem pouco tempo atrás. Daqui a pouco mermão: chega assim, na mulera, o link via facebook, do registro Fepaschoal e Comando Guatemala. Pra fulano que se amarra no som, bolação geral! Pra começar a assimilar algo? Pelo menos umas três camadas de audição: arranjos, composições, letras, gravação, volume, na medida.O batidão é bruto, eclodindo toda veia criativa do núcleo/movimento cultural Expurgação.
Mr. Boi batera (que também assina a arte visual do álbum), Arthur Navarro no baixo e efeitos, Alexandre Barcelos ("cabriocoreman" ) guitarras, e Fepaschoal em suas composições e toques de arranjos, além de mandar seus riffs nas guitarras, sopros no didjeridu, acordes no cavaco em “Corda embolada” pra lá de Cartola, vale a pena conferir.
Além, é claro, de participações da fina estampa de jovens músicos e cantoras que assumem o coral e o homem do saxofone que quando chega em “Guapa chica”, “escucha a Guapa Chica mia... para bailar....”, explode a ambientação sonora com o sax que chega tomando a guia da faixa, se avolumando sobre os arranjos da banda. Em “Império do Empírico” então, a batida tribal dinamitando colada com a tensão do saxofone somando de bônus o refrão: “Que ele está acima, acima/ Ah! Se isso matasse! Ah se isso matasse!/ Que ele está acima, acima/ Ah! Se isso matasse! Ah se isso matasse!”, com o coral realmente em cima! Segundo o próprio Fepas, a canção "Império do Empírico" é uma espécie de "SoulPowerAxéprafrentehc, como me disse um amigo."
Na vero, simplesmente Shutê Geral o disco!! A experimentação sonora levada às graças do público através de parceria com a Jurássica Laja Records, “figura rítmica e política na era atômica”: Mozine, Moz, isso mesmo, o cara do conceito “faixa a faixa”, dando a pilha pra Fepilha pra mandar um poca pala sobre cada faixa do álbum em virtude do lançamento no portal Trama, com foto de Chico W. Laja Records e Comando Kalakuta na conexão vibesambanoisecorenóia. Parceragem que se consuma na faixa “Planador”: vai lá Moz em seus ruídos vocais fazer um barulho com o coletivo Comando Guatemala segurando a batida seguida de um arranjo de cavaquinho, e que acabam de nos oferecer, como um todo, uma grande zonzera lex brute!
Em uma tiragem de 1000 cópias, FePaschoal e Comando Guatemala barbarizô geral! Quanto às referências que poderíamos aqui, somente a título de associação de ideias por meio do entendimento, sobretudo para instigar o ouvinte da boa música, o CD em questão arrisca alto na estética da música “sem firula”, com um álbum que chega na medida da articulação bruta: qualidade de composição e gravação, letras, swingada, batida, e é com grande ânimo que nos chega este lançamento.
Girando entre a autoria e referências misturadas na mente e nas mãos sobre instrumentos e equipamentos, durante anos ouvindo e tocando, a galera do Comando rebate e cola no pé do ouvido arranjos muito precisos: Calipso, Jazz, Afrobeat, Rock, Mambo, Samba, Funk, Drum’s and xote, soul, groove, Jorge Ben, Alceu Valença (da fase das músicas “Vou danado pra Catende”, “Planetário” ou "Espelho Cristalino" que até já foi tocada ao vivo), além de muita referência e apreço pelo mestre Féla Kuti, algo inconsciente de Nereu Samba Power, Trio Mocotó, Mundo Livre S/A e Nação Zumbi, Comando Kalakuta & sobretudo: Coletivo Expurgação.
A título de darmos nomes aos “bois”, poderíamos aqui sintetizar rapidamente, como destaques, as faixas “Guapa chica”, que abre o disco, “Império do empírico”, “Adão” e “Saci Solucion”, que encerra a peça. O que nos recua o ouvido neste registro, em algumas camadas de audição, nos leva para uma estética de linguagem que migra entre o concretismo e a fuleragem, o empirismo e o flerte da manguaça, colagens de palavras e poema Brasil, Manifesto da tensão e da pindaíba (“Sem dinheiro hoje e nem amanhã!” ouvimos em "Saci Solution") além de pitadas da estética do "fica atento que a corrida é ligeira."
E no som, as composições giram entre o samba & o noise, aquele frevo trava perna, ambientações sonoras com didjeridu e saxofone, juntamente com marcações de guitarra viscerais e sussegadas, sem firula, entre cordas de cavaquinho nem sempre tão “emboladas”, porém na medida, ecoando sopros graves com o didjeridu de pvc, bem como, naquela atmosfera sonora na base da marcada do triângulo acelerado e no equilíbrio circular do som, como é o caso da faixa “Carapaça”, além do batmacumba ligeiro na cadência do ritmo da capoeira de Angola na batera encontrado na faixa “Adão”. Pesado. Ecoando batidas de uma capoeira de Angola com refrão poema matemático redondo, iniciando a letra da canção "Adão" com expressões contíguas, palavras juntas sem conectivos: “Bate cabeça Adão/ cabeça bate mané/ bota cabeça no chão/ e troca ela com os pé/ Bate cabeça Adão/ cabeça bate mané/ bota cabeça no chão/ e troca ela com os pé”, com o coral de musas garantindo, Aline Hrasko na participação, sem imagem só no som, e segue o método da palavra contígua: “Sorri sorrindo Firula”, muito boa essa faixa! Tudo isso equilibrando a tensão e leveza do clima das ondas sonoras. O álbum certamente surpreende.
Finalizando bombê shutê geral, firulô num firulô é isso e ponto. Vale a pena conferir o coral, as participações e experimentações sonoras registradas neste visceral disco, que nos aparece como um movimento musical de grande importância criativa, estímulo e manifesto, misto de Olodum com Trio Mocotó com arranjos pra lá de Morphine no saxofone, e aquele batidão acompanhado por aquela guitarra wah wah percursiva, com suas oscilações de volume, efeitos e mixagens na medida, música dançante, registro autêntico: folia no pop space! Soulpower na escriba poca pala que o filho é do Comando Kalakuta. Se liga nesse som.
domingo, 15 de maio de 2011
O homem que comia diamantes: a fantasmagoria do arcaico sobre o moderno
importação de conceitos
e doutrinas pela elite intelectual brasileira
poderia explicar por que certas idéias,
mesmo as mais poderosas ou prometéicas,
dão a impressão de se encontrar um pouco fora
de seu lugar ou deslocadas em
seu tempo de realização efetiva.”
Paulo Roberto de Almeida
A perspectiva aqui trata-se de nos lançamos ao risco do pensar pelos trópicos distante daquele viver “parasitáriamente à beira do Atlântico dos princípios civilizadores elaborados na Europa” [1] em expressão de Euclides da Cunha. Por nossas terras, interessa-nos aqui demarcar que o que atende pela alcunha de moderno ou pós-moderno, ainda não se dissipou de todo da fantasmagoria do arcaico.
Para nos situarmos melhor acerca do problema da extensão por nossas terras do signo do moderno ou pós-moderno, iremos não sem desvios ao encontro da alegoria indicada ao nome deste breve artigo. A encontramos na literatura, que se fez mais pensamento em nossas terras que filosofia, tratada em certo tom de ironia, por exemplo, por nomes como Rubem Fonseca.
Não sem propósito a filosofia, em sua origem européia, no conto A arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro é tratada em um tom de ironia. Na medida em que filosofia e pensamento no Brasil, em nosso raio histórico têm sido tomados por aquele fascínio “à frase rara, ao verbo espontâneo e abundante, à erudição ostentosa, à expressão rara” [2] , como nos afirma Sérgio Buarque em Raízes do Brasil. É o pensamento como adorno, como a pena de pavão, deslocada de seu habitual lugar.
Em trabalho de nome Estética e Extética – Crítica Literária e Pensamento no Brasil, Bajonas Brito nos indica que uma vez “Feita desde o início supérflua, à filosofia restou apenas associar-se as lides do adorno.”[3] É neste sentido que se inscreve o tom de ironia que Rubem Fonseca atribui à filosofia no Brasil:
“Augusto está sentado num banco, ao lado de um homem que usa um relógio digital japonês num dos pulsos e uma pulseira terapêutica de metal no outro. Aos pés do homem está deitado um cão grande, a quem o homem dirige as suas palavras, com gestos comedidos, parecendo um professor de filosofia a dialogar com seus alunos numa sala de aula...” [4]
Nesta direção, literatura e pensamento no Brasil podem nos abrir valiosos caminhos para uma interpretação acerca de nossa experiência histórica. A alegoria a que estávamos nos referindo anteriormente, a encontramos em outra obra de Rubem Fonseca de nome Vastas emoções e pensamentos imperfeitos, um homem que para viver tem a necessidade orgânica de comer diamantes, isso mesmo, comer diamantes, estamos nos referindo ao emblemático Alcobaça, líder do grupo de contrabandistas de pedras preciosas, emblema que nos afeta por mediação de espanto e curiosidade na medida em que se trata de uma anedota, um delírio, ou antes mesmo um devaneio, pensarmos em um homem que come diamantes para manter-se vivo!!!!.
O aparecimento do homem que comia diamantes é também o aparecimento do pensamento como delírio, isto é, do pensar que ganha seus contornos e precisão por mediação do devaneio, e que ganha lugar e forma no romance de Rubem Fonseca. Assim lemos na enunciação de Alcobaça acerca de sua irrefreável necessidade de consumir diamantes, quando da oportunidade em que o narrador anônimo é seqüestrado pelos contrabandistas que acompanham Alcobaça à procura das pedras preciosas que estavam no “embrulho de papel pardo” levado por aquela mulher que subitamente aparece ao início do romance como sendo perseguida:
“Alcobaça sentou-se na poltrona, de olhos fechados. Estava mais pálido do que nunca. Ficou uns dois minutos com ar de morto. Depois disse: “Sou dominado por uma estranha patologia, uma ruptura da harmonia interna do meu corpo, de etiologia desconhecida”. Uma pausa. “Minha vida daria um filme.” [5]
Ora, não é esta “estranha patologia” que afeta nossas elites desde a colonização ibérica até o nosso raio histórico no seu trato com a natureza? Este trecho do romance de Rubem Fonseca mesmo tratando do Brasil contemporâneo, remete-se, desde a ótica de Alcobaça, ao modo de exploração da natureza comum ao Brasil arcaico, colonial, natureza de onde se extrai o máximo de riquezas sem nada retribuir, fundado historicamente no uso do fogo sob extensão do monocultivo para exportação... Daí não podermos pensar no emblema de Alcobaça como algo desvinculado de nossa mais arcaica experiência histórica, uma vez que um dos traços do modo de exploração de nossas elites em seu trato com a natureza no raio destes cinco séculos, trata-se justamente da extração das riquezas materiais de forma extremada, predatória e sem limites.
Isto é, o aparecimento do homem que comia diamantes no romance de Rubem Fonseca deve ser tomado como o ponto de acordo e cumplicidade entre o arcaico e o moderno em nosso raio histórico, daí que o emprego do conceito de modernidade comum à experiência européia, ser algo, de certo modo, incongruente e ambíguo quando transportado de modo mecânico para a experiência brasileira. Nesta direção, o arcaico e o moderno convivem desde certa proximidade, a saber, desde certo conluio fundado em uma ausência de tensão entre esferas que a princípio nos parecem opostas.
Notas:
[1] Os sertões, Euclides da Cunha, Nota preliminar, 23ª. Edição, Rio de Janeiro 1954.
[2] Sérgio Buarque, Raízes do Brasil, p. 83.
[3] Bajonas Brito, Estética e extética: Crítica literária e pensamento no Brasil (não – publicado).
[4] Rubem Fonseca, A arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro; Contos Reunidos, p. 605 e 606.
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