domingo, 15 de maio de 2011

O homem que comia diamantes: a fantasmagoria do arcaico sobre o moderno



“... uma certa defasagem cronológica na
importação de conceitos
 e doutrinas pela elite intelectual brasileira
poderia explicar por que certas idéias,
mesmo as mais poderosas ou prometéicas,
dão a impressão de se encontrar um pouco fora
 de seu lugar ou deslocadas em
seu tempo de realização efetiva.”
                                        Paulo Roberto de Almeida


A perspectiva aqui trata-se de nos lançamos ao risco do pensar pelos trópicos distante daquele viver “parasitáriamente à beira do Atlântico dos princípios civilizadores elaborados na Europa” [1] em expressão de Euclides da Cunha. Por nossas terras, interessa-nos aqui demarcar que o que atende pela alcunha de moderno ou pós-moderno, ainda não se dissipou de todo da fantasmagoria do arcaico. 
Para nos situarmos melhor acerca do problema da extensão por nossas terras do signo do moderno ou pós-moderno, iremos não sem desvios ao encontro da alegoria indicada ao nome deste breve artigo. A encontramos na literatura, que se fez mais pensamento em nossas terras que filosofia, tratada em certo tom de ironia, por exemplo, por nomes como Rubem Fonseca.
Não sem propósito a filosofia, em sua origem européia, no conto A arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro é tratada em um tom de ironia. Na medida em que filosofia e pensamento no Brasil, em nosso raio histórico têm sido tomados por aquele fascínio “à frase rara, ao verbo espontâneo e abundante, à erudição ostentosa, à expressão rara” [2] , como nos afirma Sérgio Buarque em Raízes do Brasil. É o pensamento como adorno, como a pena de pavão, deslocada de seu habitual lugar. 
Em trabalho de nome Estética e Extética – Crítica Literária e Pensamento no Brasil, Bajonas Brito nos indica que uma vez  “Feita desde o início supérflua, à filosofia restou apenas associar-se as lides do adorno.”[3] É neste sentido que se inscreve o tom de ironia que Rubem Fonseca atribui à filosofia no Brasil:

“Augusto está sentado num banco, ao lado de um homem que usa um relógio digital japonês num dos pulsos e uma pulseira terapêutica de metal no outro. Aos pés do homem está deitado um cão grande, a quem o homem dirige as suas palavras, com gestos comedidos, parecendo um professor de filosofia a dialogar com seus alunos numa sala de aula...” [4]

Nesta direção, literatura e pensamento no Brasil podem nos abrir valiosos caminhos para uma interpretação acerca de nossa experiência histórica. A alegoria a que estávamos nos referindo anteriormente, a encontramos em outra obra de Rubem Fonseca de nome Vastas emoções e pensamentos imperfeitos, um homem que para viver tem a necessidade orgânica de comer diamantes, isso mesmo, comer diamantes, estamos nos referindo ao emblemático Alcobaça, líder do grupo de contrabandistas de pedras preciosas, emblema que nos afeta por mediação de espanto e curiosidade na medida em que se trata de uma anedota, um delírio, ou antes mesmo um devaneio, pensarmos em um homem que come diamantes para manter-se vivo!!!!.  
O aparecimento do homem que comia diamantes é também o aparecimento do pensamento como delírio, isto é, do pensar que ganha seus contornos e precisão por mediação do devaneio, e que ganha lugar e forma no romance de Rubem Fonseca. Assim lemos na enunciação de Alcobaça acerca de sua irrefreável necessidade de consumir diamantes, quando da oportunidade em que o narrador anônimo é seqüestrado pelos contrabandistas que acompanham Alcobaça à procura das pedras preciosas que estavam no “embrulho de papel pardo” levado por aquela mulher que subitamente aparece ao início do romance como sendo perseguida:

“Alcobaça sentou-se na poltrona, de olhos fechados. Estava mais pálido do que nunca. Ficou uns dois minutos com ar de morto. Depois disse: “Sou dominado por uma estranha patologia, uma ruptura da harmonia interna do meu corpo, de etiologia desconhecida”. Uma pausa. “Minha vida daria um filme.” [5]

Ora, não é esta “estranha patologia” que afeta nossas elites desde a colonização ibérica até o nosso raio histórico no seu trato com a natureza? Este trecho do romance de Rubem Fonseca mesmo tratando do Brasil contemporâneo, remete-se, desde a ótica de Alcobaça, ao modo de exploração da natureza comum ao Brasil arcaico, colonial, natureza de onde se extrai o máximo de riquezas sem nada retribuir, fundado historicamente no uso do fogo sob extensão do monocultivo para exportação... Daí não podermos pensar no emblema de Alcobaça como algo desvinculado de nossa mais arcaica experiência histórica, uma vez que um dos traços do modo de exploração de nossas elites em seu trato com a natureza no raio destes cinco séculos, trata-se justamente da extração das riquezas materiais de forma extremada, predatória e sem limites.
Isto é, o aparecimento do homem que comia diamantes no romance de Rubem Fonseca deve ser tomado como o ponto de acordo e cumplicidade entre o arcaico e o moderno em nosso raio histórico, daí que o emprego do conceito de modernidade comum à experiência européia, ser algo, de certo modo, incongruente e ambíguo quando transportado de modo mecânico para a experiência brasileira. Nesta direção, o arcaico e o moderno convivem desde certa proximidade, a saber, desde certo conluio fundado em uma ausência de tensão entre esferas que a princípio nos parecem opostas. 




Notas:

[1] Os sertões, Euclides da Cunha, Nota preliminar, 23ª. Edição, Rio de Janeiro 1954.
[2] Sérgio Buarque, Raízes do Brasil, p. 83.
[3] Bajonas Brito, Estética e extética: Crítica literária e pensamento no Brasil (não – publicado).
[4] Rubem Fonseca, A arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro; Contos Reunidos, p. 605 e 606.
[5] Rubem Fonseca, Vastas emoções e pensamentos imperfeitos. Círculo do Livro S. A. São Paulo.




MEMORANDO: Orquestra Manguefônica





Um acontecimento memorável, um instante de infinitude, isso mesmo, nada mais nada menos que a mais bem sucedida aliança do baque solto e do baque virado: Nação Zumbi e Mundo Livre S/A juntos no mesmo palco!! Como assim? Tal aliança atendia pela alcunha de Orquestra Manguefônica. Local: Circo Voador, noite de 2 de abril de 2005, sábado. Objetivo dos mangueboys: em homenagem ao eterno Chico Science, tocar o álbum Da Lama ao Caos praticamente na íntegra e fixarem sua marca indelével na memória de um público sedento por ouvir e ver a aliança mais poderosa surgida nos trópicos na história da música. A abertura ficou por conta de seus conterrâneos Mombojó, jovens rapazes que traziam algo como um flerte da bossa com o groove, contando com a participação, ao final da apresentação, de China do Sheik Tosado.

Enfim, passado o percurso da viagem até a cidade de Jorge Ben e Picassos Falsos, para não nos estendermos muito, embora transbordando ansiedade e voracidade através de ouvidos e olhos, estávamos lá, na espreita do que nenhum relato pode tornar conciso, Orquestra Manguefônica meus caros!!

Subitamente um repentista aparece no palco, é o prenúncio dos mangueboys, com a linguagem sendo dosada a golpes de martelo, é anunciada a entrada do groove, do funk, do protesto sujo de lama e vivo, muito vivo, depois de muitos ataques dos urubus e alvo de inúmeros “mísseis desgovernados”. Inicia-se a introdução de Monólogo ao pé do ouvido, Fred 04 de posse de seu cavaquinho assume os vocais, “Modernizar o passado é uma evolução musical, cadê as notas que estavam aqui, não preciso delas, basta deixar tudo soando bem aos ouvidos”, quando braços em punho cerrados se levantam para cantar em coro: “Viva Zapata, viva Sandino, viva Zumbi, Antônio Conselheiro, todos os panteras negras, Lampião sua imagem e semelhança, eu tenho certeza eles também cantaram um dia”.

É dado o sinal para que mangueboys tomem seus postos, duas baterias, percussão, três tambores, a pungente guitarra de Lúcio Maia.... Banditismo por uma questão de classe torna-se um cadenciado funk-groove, com o negão Gilmar Bola 8 nos vocais, para só então Jorge Du Peixe assumir Rios, Pontes & Overdrives. Subitamente, Lúcio Maia, do lado direito do palco para o público, solta um fulminante riff irreconhecível de guitarra, a Orquestra acompanha, o mais atencioso ouvinte estranha a levada, quando de repente Jorge Du Peixe entra com a letra de A cidade, como se não bastasse, o groove continua, com Fred 04 sem aviso prévio tomando um dos microfones a cantar trechos de Guns of Brixton do Clash. A cidade tornara-se groove session, Du Peixe retoma os vocais e vai de A message to you Rudy, “Rudy, a message to you, Rudy”, dos Specials (composição de Lee "Scratch" Perry/Lee Thompson), em seguida, evoca o Ben com Ponta de lança africano (umbabarauma). A esta altura já estava indicado que as versões de estúdio das canções de Da Lama ao Caos tinham passado por incríveis,  maturadas e constantes mutações.

A praieira tornou-se um flutuante e equilibrado ska. Em seguida, Marcos Matias do fundo do palco, imponente com seu tambor em punho, subitamente assume a regência quando o assunto é samba, Samba Makossa, a intensidade vai aumentando na medida em que Pupillo vai acelerando os galopes de sua bateria sob as rédeas do pandeiro de Toca Ogan, até que o groove da Orquestra dá os seus saltos, “Cerebral, é assim que tem que ser, maioral, é assim que é, mão na cabeça e um foguete no pé”, agarra o público um fragmento do samba-groove com as vozes em coro, enquanto chão de Circo Voador é trampolim para a “Ladeira do limiar do gosto pelo infinito, já querendo o depois”, em expressão de Du Peixe. Lúcio, ao final de Makossa, troca de guitarra, o “depois” atende pela alcunha de Da lama ao caos, em sua Tsunami version, é a Cavalaria Manguefônica deixando o seu rastro a golpes de martelo. “Mais uma música nova aê” dizia Du Peixe a cada passagem de uma música para outra.

O arsenal do Mundo Livre não poderia deixar de fazer sua intervenção, começando sua andada com Livre Iniciativa, que deixara sua versão samba-groove de estúdio ao encontro de sua Manguefônica version, em que só no refrão: “Samba esquema noise!!”, é o público que aguardava o estouro do groove, nocauteado pelo conluio entre samba e reggae, com o cavaquinho de Zeroquatro marcando o swing da levada. Em seguida, a Orquestra vai de Manguebit com 04 na regência, que no breque evoca London Calling do Clash, com Dengue no baixo chamando pra si a regência martelada da Manguefônica, para só então encerrar a canção com o retorno à enérgica Manguebit.

Na seqüência, o no início sorrateiro e em seguida fulminante Salustiano song, é responsável por poupar as vozes dos mangueboys, abrindo destaque para a harpa Manguefônica de Lúcio Maia, para só então Du Peixe retornar à regência com Antene-se: “Sou, sou, sou, sou, mangueboy! Recife cidade do mangue, onde a lama é a insurreição, onde estão os homens caranguejos,..., procure antenar boas vibrações”. Com antena manguebólica dissipando boas vibrações através das ondas eletroafrociberdélicas sobre o infinito, abre-se espaço para o canto do outro lado do mundo para a amada Risoflora, é o caranguejo de andada deixando o seu rastro solitário: “E em vez de cair em tuas mãos preferia os teus braços, e em meus braços te levarei como uma flor, pra minha maloca na beira do rio, meu amor!”.

Como uma cavalaria que vem ao longe e vai impondo seu ensurdecedor volume e medida ao passo que vai chegando, aparece o Lixo do Mangue, Pupillo e companhia soltam os braços, enquanto Gilmar Bola 8 vem como um lutador de boxe do fundo do palco largando o seu tambor para assumir com voracidade os vocais: “Vamo se embora que o mundo arrudiô, e se eu ficar aqui parado eu não vô, me diz que som é esse que vem de Pernambuco.”

Mais uma intervenção do Mundo Livre S/A na Orquestra Manguefônica: Pastilhas coloridas, “Como se não houvesse lugar pra nós na Nação Zumbi”, canta Zeroquatro. Em Coco Dub (Afrociberdelia), Black Alien é convidado ao palco, Toca Ogan entra em transe afastando-se dos instrumentos e ocupando o centro das atenções com seus malabarismos corporais, enquanto 04 evoca trechos de Guns of Brixton aos microfones e amplificadores bem ajustados, calibrados.

Embora Maracatu de tiro certeiro tenha ficado de fora dos sons, após passagem de Orquestra Manguefônica diante de olhos e ouvidos famintos, cair em si insistiu em se afastar de ouvidos, olhos ensolarados em noite tranqüila, espírito eletrizado no burburinho que ecoava da multidão, apenas instante de infinito deixando seu rastro por demais crivado em memória, é isso aê!! Longa vida aos caranguejos com cérebro!!!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Do grafite ao bit: sobre o projeto 
CIBERNÉTICA 37




















Se o lápis ainda exerce grande poder sobre nossa forma de aprender, o dígito e a imagem através de um micro em nossos dias também exerce grande força: nasce o caderno digitalizado. Um portal de registros de produções pesquisas e textos de jovens do ensino médio e segmento EJA, muito trabalho nas configurações, orientações de postagens, porém o resultado tem causado espanto e curiosidade em aprender manusear nossa criação e estimular a dos outros. Realizando portanto aquele movimento que vai da pressão do grafite das lapiseiras sobre o papel até o bit e o pixel de um computador. 


Usuário Cibernético
confira  o blog em atividade desde 2009
http://cibernetica37.wordpress.com/























domingo, 3 de outubro de 2010

Filosofia Tensa agora no Twitter

FILOSOFIA WEB TENSA ATAACK

Agora as postagens realizadas em

Ganham sua versão Twitter!!



O Projeto Filosofia Tensa que teve sua oficina pública em 18 de
setembro deste ano na escola Dr. José Moisés em Cariacica. Após uma tentativa frustada de criação da página do mini blog limão, em conversa com o aluno Claudiano, achamos por bem explorar os recursos do twitter. 
Aí está, o twitter das postagens dos alunos:



quinta-feira, 12 de agosto de 2010

FILOSOFIAIMAGEMPENSAMENTO (vídeo e áudio remix @abraaosoupower)




Vídeo produzido a partir de ensaios fotográficos produzidos em 2009 juntamente com slides com aforismos e imagens sobre filosofia, estes produzidos em 2010, além de imagens buscadas na web, utilizando uma tentativa de relação entre imagem e pensamento.
O vídeo ainda contou com uma mixagem de uma canção do grupo "Asian Dub Foundation", "Return of django", trilha sonora de peso!
Recursos materiais: uma câmera fotográfica 5.0 mega pixels um computador não muito velho e surrado, e...sobretudo, UMA IDEIA NA CABEÇA E UM ENTER NA MÃO.
Programas utilizados:  o Windows Movie Maker e um editor de fotos do Windows, e o editor de áudio do próprio windows.

terça-feira, 10 de agosto de 2010


Filosofia tensa: o conceito: fragmentos, aforismos, frases curtas, insight






Antigo sistema de escrita usado em Creta (por volta do século IV A.C.)



Abraão Carvalho é:





O conceito do que se convencionou pela expressão FILOSOFIA TENSA é a inauguração de uma nova linguagem e apreensão de uma forma de escrever e pensar que já estava ocorrendo a algum tempo na grande cidade, ruas e diálogos ao acaso ou por rotina.
Por outro lado, vale ressaltar que a forma original pela qual @filosofiatensa se manifesta retoma inconscientemente, e somente depois de sua criação percebido, o quanto a sua linguagem se aproxima muito do modo formal e original da filosofia dos pré socráticos, ou dos filósofos da natureza, que escreviam em forma de “fragmentos”.
Segundo artigo de Nietsche a partir dos fragmentos do pré-socrático Heráclito, que para Aristóteles apresentava-se como a “mais radical das doutrinas”, li isso bem depois, havia uma afirmação de que os fragmentos dos filósofos pré-socráticos ou filósofos da natureza, era feito desta forma, pois a técnica da escrita era feita em pedra.
Isso mesmo, esculpida em pedra! E neste período poderíamos até afirmar ter sido uma geração que acompanhara a escrita no período tardio dos ideogramas, que eram imagens que representavam ideias encontradas em cavernas de povos mais antigos.
Assim, os fragmentos dos primeiros filósofos gregos, eram fragmentos que provocaram muitas ideias que impulsionaram o desenvolvimento da história da filosofia e ainda nos dia de hoje não foi esquecida. 
Por definição encontrada em dicionário, fragmento significa: “Partes que restam de textos artísticos, filosóficos ou científicos perdidos ou destruídos: Exemplo: Ele traduziu alguns dos fragmentos dos filósofos pré-socráticos.”
Isso me fez pensar que o conceito de FILOSOFIA TENSA embora possa nos parecer algo extremamente novo, disso não há dúvida, ainda assim deve ter em vista esta raiz história da linguagem do mundo ocidental, dito de um modo mais preciso, a filosofia tensa tem como uma de suas referências o modo como os filósofos primeiros expressavam suas ideias, através de fragmentos.
Em outro nível de compreensão, modernamente, o filósofo Hegel, para o qual seu sistema lógico valeu-se muito de um dos pré-socráticos, Heráclito, dizia Hegel sobre ele: “Não existe frase de Heráclito que eu não tenha integrado em minha lógica”.
Retomando o fio, o filósofo Hegel nos indicou uma aproximação íntima entre conceito e linguagem, assim a noção de fragmento evoca primordialmente, na história da filosofia, o vínculo entre conceito e linguagem. A frase do filósofo que resultou no argumento anterior reside na seguinte passagem: “Em toda enunciação e percepção da experiência e sempre que o homem fala, já se manifesta em tudo isto um conceito, nem se pode impedir que aí esteja, renascido na consciência.”
Sobretudo, diante do problema MANDA UMA TENSA AÍ? O problema inaugural para este projeto, abriga-se na possibilidade de retomar e criar, um modo de pensar que tenha seu impulso ou origem no fragmento, num fragmento pós-socrático, da experiência das atuais populações das grandes cidades, da experiência da linguagem da filosofia tensa, daquilo que nos afeta primordialmente.
Como atestamos por experiência, nem todos os dias aquele fragmento que esperamos, possa aparecer, quando somos abordados, como se fosse um... cumprimento habitual corriqueiro, uma espécie de “bom dia boa noite pra quem tá chegando” e neste clima amigável alguém te perguntar, de repente: MANDA UMA TENSA AÍ?  Não se preocupe, se não tiver uma tensa, pra você mandar.
Há tempos na história a filosofia tensa esteve adormecida. Ela não é cotidiana, não é diária, não aparece quando queremos às vezes, mas está ali, a palavra sendo tecida até ficar pronta, para agarrar o pensamento e torná-lo conceito, na perspectiva da filosofia tensa.
Um dos jovens precursores da filosofia tensa quando perguntado sobre o que tinha diante de um assalto, abriu sua mochila e seu caderno surrado em uma folha quase soltando do caderno, tirou seu lápis de um suporte do boné e respondeu: SÓTENSAQUI. Secamente.
Por outro lado, outra relação do que estamos desenvolvendo residirá também no sentido e significado da palavra conceito. De acordo com Hegel, em uma única passagem que aqui nos interessa, nos indica que “conceito” significa: “movimento do saber”.
É promover este movimento do saber que resulte num conceito através de uma frase curta, um fragmento, formulado ou retomado de alguma referência, não plagiado, através de algum tema por vezes, que uma filosofia tensa pode surgir e orientar-nos diante de um problema, uma situação, uma cilada, uma elevação da alma, uma constatação cabulosa, um novo neologismo, colagem de palavras, variação do verbo da gramática oficial, diálogo com a tradição filosófica, criação, pensamento em movimento que colabora com a ação.
Deste modo, outro termo importante para os conceitos da filosofia tensa residirá também na noção da expressão de língua inglesa “insight”. De acordo com nossa pesquisa na internet a palavra insight significa “Ter uma grande idéia, uma verdadeira visão de futuro.” Ou de acordo com o dicionário significa “discernimento intelectual, intuição, introspecção”.
Deste modo, o conceito de filosofia tensa associa a forma original de pensar dos filósofos pré-socráticos, abrangendo não apenas os elementos da natureza como os nossos antepassados, herança em grande parte da influência da mitologia grega no surgimento e criação do que entendemos hoje por filosofia, já que os filósofos pré-socráticos eram assim classificados por anteriores a Sócrates, e sobretudo, conceitualmente, ao limitarem suas investigações diante do problema da origem de todas as coisas a partir dos elementos da natureza.
Tales afirmava que “A água é o princípio de todas as coisas”, algo que as ciências biológicas atestaram modernamente através do conceito da experiência do “ciclo da água na terra”. Heráclito afirmava que “O sol. Preposto e vigia, para definir e arbitrar, revelar e fazerem aparecerem as mudanças e estações, que trazem tudo... Associado ao guia e Deus principal.”
Referência aos elementos da natureza, como aparecem nos fragmentos dos filósofos pré-socráticos, de certo que aparecerão nos fragmentos da filosofia tensa, porém sabendo que estamos em outro período da história.
Assim, a filosofia tensa apresenta a voz de certos anônimos de nossa era, que aos poucos vão testando seu poder criativo. “Conhecer é criar”, estampa o título do livro do filósofo Gilvan Fogel.
Sobretudo, como a palavra insight indica, precisamos de um novo sentido de discernimento, o que é tarefa de cada um, pois como também indicam os significados da palavra insight, podem também ser interpretados por introspecção, que significa “observação dos próprios pensamentos e sentimentos”.
Assim, o problema principal da filosofia tensa é criar através do conhecimento por meio da observação e reflexão, a formulação de insight’s, fragmentos, frases curtas, aforismos, que significa de acordo com dicionário “sentença moral breve e conceituosa”, “máxima”. 
Com a observação de nossos próprios pensamentos e sentimentos, com a devida introspecção, brotará algo de filosofia tensa, tarefa criativa individual, pois como afirma o filósofo Hegel, “a ninguém é dado a pensar por outro”.
E quando for perguntado subitamente “MANDA UMA TENSA AÍ?” pense no que poderia ser a sua “máxima”, a sua máxima afirmação que lhe brotar à mente naquele instante. Se não lhe ocorrer a “vistagem” de uma filosofia tensa, é porque a palavra ainda está entrando em acordo com o pensamento, e antes do acordo entre palavra e pensamento, há um duelo entre eles, façamos uma tentativa de conciliação entre palavra e pensamento através dos princípios da filosofia tensa.